Asperger: história e características
Um dos temas mais comuns e que mais despertam curiosidade nas pessoas é a famosa “síndrome de Asperger”. Afinal, quais são suas características? Ainda se usa essa nomenclatura para certos quadros do espectro autista? O que diferencia um indivíduo com Asperger dos outros autistas?
Porém, para responder adequadamente a essas perguntas, precisamos aprender um pouco sobre a história do diagnóstico de autismo.
Um pouco de história
Antes de mais nada, quando falamos em autismo, logo nos remetemos ao processo histórico que envolve esse assunto tão comentado na atualidade. Através de um panorama histórico é possível perceber as significativas mudanças que o diagnóstico de autismo vem sofrendo até os dias atuais.
A palavra “autismo” deriva do grego “autos”, que significa “mesmo” ou “si mesmo”. A primeira pessoa a utilizá-la foi o psiquiatra austríaco Eugen Bleuler em 1911. Ele se referia a um dos critérios adotados em sua época para a realização de um diagnóstico de esquizofrenia (termo também cunhado por ele).
Posteriormente, em 1943, Kanner utilizou-se da mesma nomenclatura “autismo”, em sua obra “Autistic disturbences of affetictive contact”. Nesse estudo, observou 11 crianças que correspondiam uma série de características peculiares como obsessão, estereotipias e ecolalia (repetição mecânica de palavras e/ou frases). Assim, fechavam-se em si mesmos, por isso o nome “autismo”.
Um ano mais tarde da publicação de Kanner, Hans Asperger, pediatra austríaco, descreveu os mesmos sinais descritos por Kanner, em sua obra “Autistic psycopathy in Childhood”. Em seus estudos, as crianças mantinham preservação cognitiva, diferente das crianças estudadas por Kanner. Contudo, elas apresentavam dificuldades de comunicação social. Assim, diante dessa preservação cognitiva, porém com dificuldades sociais e comunicativas, foi então nomeada a Síndrome de Asperger.
Mesmo que Asperger e Kanner tenham descrito o mesmo distúrbio, eles desconheciam a obra um do outro. Ademais, a obra de Hans Asperger havia sido escrita em alemão, o que dificultou seu acesso. Ela se tornou mais amplamente conhecida apenas em 1980, quando traduzida para o inglês e mencionada pela primeira vez por Lorna Wing em seus estudos sobre o autismo.
As terminologias mais recentes
Em 1995, na versão do DSM-IV (4ª edição do Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), o autismo era considerado um Transtorno Invasivo do Desenvolvimento. Essa edição do DSM também passou a ter a inclusão dos quadros de Transtorno de Rett, Transtorno de Asperger e Transtorno Desintegrativo da Infância.
Pelo DSM-5 (publicado em 2013), o termo síndrome de Asperger não existe mais, sendo todos os traços enquadrados na sigla TEA.
Atualmente temos disponível o DSM-V, publicado em 2013, que se utiliza da nomeação Transtorno Espectro Autista (TEA). Seu modelo de diagnóstico diferencial segue dois critérios. São eles 1) Déficits ininterruptos na comunicação social e interação social e 2) Padrões restritos, repetitivos e estereotipados de comportamentos, interesses e atividades.
Como resultado, pelo DSM-V, o termo síndrome de Asperger não existe mais: todos os traços estão enquadrados na sigla TEA (Transtorno Espectro Autista). Contudo, pelo CID-10 (décima edição da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde), que ainda é utilizado, o termo síndrome de Asperger ainda é empregado.
Na sua nova versão, o CID-11, lançada em 2018 e prevista para entrar em vigor em 2022, todos os quadros de autismo também se encontram sob a categoria de TEA. Essa, portanto, é a tendência das classificações mais modernas: unificá-las a partir da noção de espectro, em vez de diferenciá-las, tal qual se fazia vinte anos atrás.
Definição de síndrome de Asperger
Em suma, podemos entender a Síndrome de Asperger como uma classificação antiga dentro do autismo. Sua principal característica é que a dificuldade social, típica do autismo, não é acompanhada por atraso intelectual, nem por atrasos importantes na fala. Dessa forma, na Síndrome de Asperger se encontram outras características constituintes do espectro. Dentre elas, podemos citar o relacionamento social restrito (com algumas dificuldades em socializar, dificuldades no controle inibitório), e um interesse restrito e estereotipado, com qual se mantém um hiperfoco em determinados assuntos ou objetos.
Um caso real de Asperger
Renan desenvolveu a fala no tempo esperado. Trocava apenas poucos fonemas, brincava e aceitava a presença de outras crianças e olhava na maioria das vezes quando alguém o chamava pelo nome. Sempre manteve, porém, um interesse em um assunto específico: planetas. Podia falar por horas desse assunto sem se cansar. Com isso, Renan não percebia que muitas vezes as pessoas se fatigavam de ouvir sempre o mesmo assunto por horas. Ele também tinha dificuldade em entender quando as pessoas ficavam entediadas com ele e demonstrava dificuldade em falar de outros assuntos. Sendo assim, ele sempre voltava a conversa para o que era apenas do seu interesse.
Renan não se cansava de falar de planetas, seu tema predileto. Mas também não percebia quando os outros se cansavam desse tema.
Em suma, nesse caso específico, vemos como a criança não tinha atraso intelectual, nem problemas significativos relativas à fala. No entanto, apresentava outras características típicas de TEA, como a fixação em objetos ou assuntos específicos e a restrição do seu repertório comportamental.
Quer mais dicas sobre este assunto? Assista ao vídeo: