Dieta alimentar e autismo
Muitas crianças que possuem Transtorno do Espetro Autista (TEA) têm comorbidades gastrointestinais associadas, como constipação, diarreia e dor abdominal, por exemplo. Apesar da alta correlação encontrada, ainda não se sabe os motivos de tais sintomas serem mais comuns em crianças com autismo. Contudo, eles precisam ser tratados com especialistas, para que seu impacto negativo no cotidiano da criança seja amenizado. Além disso, é importante realizar uma investigação sobre possíveis alergias alimentares, que indicariam a necessidade de uma dieta alimentar restritiva. Busca-se, assim, melhorar a qualidade de vida da criança.
Mas existem tratamentos baseados em dietas alimentares específicas. Como eles funcionam? Será que eles são cientificamente válidos?
Alguns tratamentos baseados em dietas se propõem a melhorar não apenas sintomas gastrointestinais, mas também comportamentais da criança.
A dieta alimentar como tratamento
Atualmente, alguns tratamentos baseados em dietas alimentares se propõem a melhorar não apenas sintomas gastrointestinais, mas também comportamentais da criança. Tais tratamentos levantam a hipótese de que respostas imunes e uma permeabilidade intestinal anormal nas crianças com autismo resultam na absorção de moléculas quebradas no intestino. Essa moléculas então atuariam de forma opioide, o que teria diversas influências no Sistema Nervoso Central. Entre essas alterações, estaria o aumento de comportamentos auto e hetero agressivos, estereotipias, falta de atenção e dificuldade comunicativa. O mais difundido tratamento alimentar propõe a restrição a alimentos que contenham glúten e caseína, como forma de evitar tal absorção e, assim, diminuir os comportamentos citados.
Seguindo essa dieta, as crianças não podem comer pão, bolachas, queijos… Ou seja, nesse caso a restrição é bem severa! Será que tanta restrição vale a pena?
Mas essas dietas têm comprovação científica?
Apesar de alguns estudos já terem sido realizados na tentativa de comprovar sua eficácia, não há na literatura científica dados conclusivos sobre a influência do tratamento da dieta alimentar em comportamentos autísticos. Isso ocorre devido à falta de qualidade metodológica desses estudos.
Por isso, ainda faltam estudos para podermos usar com mais segurança esses métodos!
Além disso, toda dieta alimentar pode acarretar em deficiências nutricionais importantes, o que é muito sério em crianças, já que estão em processo de desenvolvimento. Os pequenos com autismo muitas vezes apresentam, ainda, uma grande seletividade alimentar, que já prejudica a boa nutrição. Aliás, há crianças no espectro com muita dificuldade para comer por si só! Essa dificuldade tem muitas causas e está ligada a vários fatores. Devemos levar todos eles em conta. Assim, restringir a dieta pode significar restringir a terapia! O mais prudente, então, é seguir com métodos cientificamente testados. No caso do TEA, o Modelo Denver é o mais apropriado.
Os pequenos com autismo podem naturalmente ter sérias dificuldades de alimentação. Elas têm várias causas e estão ligadas a muitos fatores, e devemos levá-los todos em conta!
Ou seja, até que tenhamos estudos melhores, vamos trabalhar, antes de tudo, para que nossos pequenos tenham uma alimentação saudável e completa!
Os impactos da alimentação
Mas uma dieta alimentar pode ter outros impactos na vida da criança, que vão além do aspecto nutricional. Afinal de contas, comer não é apenas ingerir nutrientes, não é mesmo? As refeições são, na maioria das vezes, momentos sociais. Elas fazem parte de eventos importantes, e é por meio delas que trocamos olhares, afetos e experiências.
Assim, restringir a alimentação de uma criança influencia de forma direta em sua vida social. Essas restrições podem impedi-la de participar de eventos que envolvam muitos alimentos, como festinhas de aniversário, por exemplo. Talvez a criança possa, sim, comparecer a esses eventos. De qualquer forma, será difícil que ela participe em sua plenitude. Até para crianças com desenvolvimento típico, que apresentam menos dificuldades sociais, esta pode ser uma questão difícil de lidar. Para crianças autistas, então, limitar ainda mais as oportunidades sociais pode representar uma grande perda para elas.
Por isso, uma vez que a ciência ainda não tenha comprovado os benefícios da dieta de restrição alimentar em comportamentos autísticos, é muito importante que as restrições sejam aplicadas apenas a crianças com comprovada alergia, intolerância alimentar ou doença gastrointestinal. Agindo assim, garantimos a ampliação de seus gostos alimentares, bem como os nutrientes necessários para o seu pleno desenvolvimento.