Explicando o Transtorno do Espectro do Autismo
Muita gente quer saber mais detalhes sobre o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Afinal, quando recebemos um diagnóstico, queremos saber do que se trata, não é mesmo? Neste texto, vamos tentar explicar para vocês algumas das principais características do TEA!
O Transtorno do Espectro do Autismo é considerado um transtorno de neurodesenvolvimento. Nele, a criança tem dificuldade na comunicação social e mantém um interesse limitado e estereotipado. Isso significa que é uma alteração que ocorre dentro do cérebro no qual as conexões entre os neurônios se dão de uma forma diferente. Sendo assim, a pessoa tem dificuldade em interagir com as outras de uma maneira proveitosa.
Há várias características e níveis de autismo, estudadas e catalogadas pela ciência, mas há também vários mitos a respeito dele. Por isso, é bom ter cuidado com as coisas que lemos! É sempre bom ficar de olho nos sinais do autismo, pois quanto mais cedo se iniciar uma intervenção, mais chances ela tem de aumentar a autonomia da criança.
Vamos ver então quais são esses sinais?
O TEA é um transtorno de neurodesenvolvimento no qual a criança apresenta dificuldades na comunicação e mantém interesses restritos e repetitivos.
TEA e dificuldade de comunicação
A alteração em comunicação social no TEA pode aparecer com:
- Dificuldade no contato visual. Assim, pode ser raro que nos olhem diretamente nos olhos.
- Dificuldade no uso de gestos e expressões faciais.
- Dificuldades em fazer amizades e no brincar, entender emoções e sentimentos relacionados ao outro.
- Não se interessam por coisas que as outras crianças propõem (brinquedos ou brincadeiras que não sejam do seu interesse). Por exemplo, enquanto as outras crianças brincam com peças de montar e planejam fazer um prédio, a criança com autismo usa as pecas para enfileirar ou empilhar.
- Aproximação de uma maneira não natural, robotizada, “aprendida”. Dessa forma, a criança com autismo pode ter fracasso ou sérias dificuldades nas conversas interpessoais.
- Demonstrações de pouco interesse no que outra pessoa está dizendo ou sentindo. Por exemplo, quando alguém relata estar aborrecido com o trabalho. Nessa situação, a pessoa com TEA pergunta sobre o tipo de serviço que ele faz e não sobre o sentimento que ele traz.
- Dificuldade em iniciar ou responder a interações sociais. Geralmente, não iniciam conversas ou brincadeiras, e quando são chamados para interagir, muitas vezes não respondem.
- Dificuldade de entender a linguagem não verbal das outras pessoas, tais como as expressões faciais, gestos, sinais com os olhos, cabeça e mãos.
- Dificuldade em se adaptar a diferentes situações sociais, tais como dificuldade de dividir brinquedos, mudanças de brincadeiras, participar de brincadeiras imaginárias (casinha, por exemplo).
Os interesses restritos e estereotipados
Além da dificuldade comunicativa, autistas apresentam também interesses limitados, repetitivos e estereotipados. Dentre eles, estão:
- Movimentos repetitivos ou estereotipados com objetos e/ou fala. Por exemplo: Pegar um carrinho, virar e girar a rodinha repetidamente, ao invés de brincar da forma esperada; ou também pegar bonecos e jogá-los ou colocá-los na boca, em vez de montar uma brincadeira criativa com eles.
- Na fala, repetições de filmes ou desenhos, falando sozinhos numa linguagem “própria”, sem função de interação social. Assim, em vez de usar essas falas repetidas para se comunicar, ficam apenas repetindo as sentenças e palavras, sem objetivo social.
- Insistência em rotinas, rituais de comportamentos padronizados, fixação em temas e interesses restritos. Por exemplo, só falar de carros ou de um personagem, não se interessando por outros assuntos; ou, ainda, só querer jogar o mesmo jogo no tablet e no celular.
- Estereotipias motoras, movimentos repetitivos com o corpo ou com as mãos, tais como abanar as mãozinhas, pular ou rodar, bater as mãos, alinhar objetos, empilhar.
- Extrema angústia com pequenas mudanças na rotina, como mudar o caminho de casa, por exemplo. Gostam de manter os mesmos costumes, entendem que o mundo “correto” é como eles aprenderam na primeira vez. Dessa forma, tentam manter o mesmo padrão, sempre, e muitas vezes se irritam quando algo é alterado.
- Forte apego a objetos, gastando muito tempo observando ou usando um mesmo brinquedo ou segurando o dia todo algo que caiba nas mãos. Mesmo quando pedimos para escolher outro, não conseguem parar de se preocupar com aquele determinado objeto. Nesses momentos, dificilmente a criança compartilha conosco o que está fazendo. Ela não traz para nos mostrar e não nos olha com a intenção de ver se estamos vendo-a.
Alterações na sensibilidade
Também é comum que autistas apresentem certas alterações na sensibilidade, como por exemplo:
- Sensibilidade a barulhos, cheiros, texturas de objetos ou ficar extremamente interessados em luzes, brilhos e determinados movimentos repetitivos, como objetos girando ou ventiladores, por exemplo. Assim, podem ficar extremamente interessados num estímulo, como também ficar muito irritados com ele.
- Hiper ou hipo reação a estímulos do ambiente como sons ou texturas.
- Alteração na sensibilidade a dor. Algumas vezes, os pais descrevem quedas ou batidas que parecem não ter causado dor alguma na criança, tal como era de se esperar.
História do Transtorno do Espectro do Autismo
Apesar de hoje ser bem conhecido, nem sempre o diagnóstico de autismo existiu. Assim, por meio de um processo histórico podemos observar as significativas mudanças do diagnóstico. Vamos ver quais são elas?
Kanner em 1943, utiliza-se da nomenclatura autismo, (a mesma usada por Bleuer em 1911) em sua obra “Autistic Disturbances of Affective Contact”. Nesse estudo, observou 11 crianças que apresentavam uma série de características peculiares, tais como “obsessividade”, “estereotipias” e “ecolalia”.
Gadia et al. (2004) relatam, que um ano mais tarde da publicação de Kanner, Hans Asperger descreveu casos que seassemelhavam aos descritos por Kanner. Em seus estudos as crianças mantinham preservação cognitiva, mas apresentavam dificuldades de comunicação social. Daí vem o nome “síndrome de Asperger”, hoje tão conhecida.
Separando autismo de esquizofrenia
No início, pensava-se que o autismo fazia parte do quadro das esquizofrenias. Aliás, muitos autistas foram diagnosticados no século passado como esquizofrênicos!
No entanto, em 1987 o autismo foi separado do enquadre da esquizofrenia. Ele passou a ser classificado com um Transtorno pelo DSM-III-R (Manual Estatístico e Diagnóstico da Associação Americana de Psiquiatria).
As mudanças mais recentes do diagnóstico
Em 1995, na versão do DSM-IV, o autismo foi considerado um Transtorno Invasivo do Desenvolvimento. Ele passou a ter inclusão dos quadros de Transtorno de Rett, Transtorno de Asperger e Transtorno Desintegrativo da Infância.
Atualmente, entretanto, temos disponível a atualização do DSM-V, que se utiliza da nomeação Transtorno Espectro Autista (TEA Autismo). Ela segue dois critérios: (1) déficits na comunicação social e interação social, e (2) padrões limitados, repetitivos e estereotipados de comportamentos interesses e atividades.
O DSM-V, segundo Grandin e Panek (2015), está mudando a abrangência do próprio diagnóstico. Assim, no DSM-IV, a categoria relacionada ao autismo era incluída nos transtornos globais do desenvolvimento e incluía os seguintes diagnósticos:
- Transtorno autista (ou autismo “clássico”).
- Síndrome de Rett.
- Transtorno Desintegrativo da infância.
- Transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação (TGD-SOE) (ou autismo atípico).
Agora, contudo, o DSM-V lista apenas um: o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA).
O diagnóstico de Transtorno do Espectro do Autismo hoje
A ocorrência do autismo é algo que se mostra crescente. Segundo Silva et al. (2012), tal atribuição fez com que o autismo fosse mais conhecido. Nesse sentido, a Organização das Nações Unidas (ONU) afirma que cerca de 70 milhões de pessoas são acometidas pelo Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Outra informação relevante é que sua prevalência se faz maior em indivíduos do sexo masculino.
Por isso, iante desse aumento cada vez maior do espectro na população mundial, são cada vez mais importantes os estudos que apresentem procedimentos interventivos em indivíduos acometidos por TEA. Mas, apesar dos avanços científicos, ainda não se tem um exame específico que possa diagnosticar diretamente o autismo. Seu diagnóstico é feito por meio da observação do comportamento da criança por um especialista.
Apesar de o diagnóstico ter sido unificado pelo DSM-V, nem todos os autistas são iguais! Assim, como cada indivíduo é único, as crianças com TEA podem apresentar nuances diversas dentro destas características descritas acima. Dessa forma, é importante ficar atento aos detalhes e, caso os sinais sejam notados, vale sempre levar a criança a profissionais capacitados para uma avaliação!
Referências
ASSUMPÇÃO, Francisco Baptista; PIMENTEL, Ana Cristina M. Autismo Infantil. Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo: v. 22, 2000. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbp/v22s2/3795.pdf.
DSM-IV – Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. Disponível em: http://virtualpsy.locaweb.com.br/dsm.php?busca=transtorno+global+do+desenvolvimento.
GADIA, Carlos Amin et al. Autismo e Doenças Invasivas de Desenvolvimento. Jornal de Pediatria. Rio de Janeiro:v. 80, n 2, 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/jped/v80n2s0/v80n2Sa10.pdf.
GRANDIN, Temple; PANEK, Richard. O cérebro autista. Ed. 1, 2015.
SILVA, Ana Beatriz Barbosa et al. Mundo Singular. Rio de Janeiro: ed. 1, 2012.
WILLANS, Chris; WHIGHT, Barry. Convivendo com Autismo e Síndrome de Asperger. São Paulo: ed. 1, 2008.